domingo, 22 de janeiro de 2017

GINA, A Caçadora VII - Pedófilos

Gina passeia pela cidade, pelas praças, e resolve ir à igreja fazer uma oração. Na verdade ela só foi à igreja duas vezes: uma quando foi batizada e a outra na missa de sétimo dia da sua mãe. Demora pouco mais que os outros e ao sair, percebe que um menino está muito triste sentado na calçada. Senta ao seu lado e puxa conversa. O garoto que tem pouco mais de doze anos não dá a mínima atenção. Não compartilha com o que ela fala. Seu pensamento está distante. Ela não é de desistir facilmente e parte para outra tática.


- Lá vem o carrinho do picolé. Nesse calor é bom! Quer um? Eu pago.
O menino meio desconfiado, aceita, mas não fala nada. Apenas acena com a cabeça.
Gina insiste mais um pouco, mesmo sabendo que tem de cuidar de seus afazeres lá no povoado.
- Vamos lá, garoto, gostou do picolé?
- Gostei!
- Cadê seu pai e sua mãe?
- Moro com meu padrasto. Ele bebe muita cachaça, se embriaga e me bate. Não posso voltar agora pra casa, a essa hora ele já bebeu.
- Quer ir lá para casa comigo?
- Não posso.
- Por quê?
- Sabe o que é um coroinha?
-Sei. Você ajuda o Padre na missa?
- Sim.
- Por que você não conta para ele sobre seu pai?
- É pior.
- Por que é pior?
- O Padre é quem dá dinheiro para meu pai.
- E por que ele faz isso? Seu pai não é quem poderia ajudar a igreja.
- Acho que sim.
- Então! Qual é o motivo dele dar dinheiro para seu pai?
- Moça,  preciso ir...
- Para onde você vai?
- Não sei.
- Como é seu nome?
- Gabriel Sousa.
- Gabriel, onde você mora?
- Na última casa, daquela rua. Bem em frente a um curral de bois. Uma casa amarela da calçada alta.
- Tudo bem! Se eu vier à missa de domingo, você fala comigo? Seremos amigos?
- Sim, falo.
- Então, fica com Deus!


Quando Gina vira as costas, Gabriel corre e lhe dá um abraço bem apertado. Ele sentiu que poderia confiar nela.
Despedem-se e cada um segue seu rumo.
Já em casa, no almoço, Gina comenta com a família o ocorrido.
- Júlio, aconteceu uma coisa hoje.
- O que foi?
- Vi um menino triste e meu coração pediu que falasse com ele.
- E daí, Gina? Tem um monte de crianças sem pai, sem mãe ou abandonadas nessa cidade.
- Sim, tem, eu sei, mas esse garoto é um caso à parte.
- Como você sabe disso?

Seu João Lobo entra na conversa.
- É melhor vocês comerem. Tem muita coisa para fazer. Já não basta os problemas daqui?
- Pai, eu vi nos olhos dele, que tem algo errado. Ele disse que o Padre dá dinheiro para o pai dele.
- Oxe! Ele só está ajudando mais um cristão. Isso é normal. Mas, porque o Santo homem iria dar dinheiro assim?
- Não sei Júlio. É isso que me deixa intrigada.
- Gente, vamos cuidar da labuta daqui, que o Padre cuida da Igreja e dos fiéis dele.
- Pai, vamos ouvir a Gina.
- Não tenho mais nada para falar. Domingo irei para a missa novamente e depois me encontrarei com ele!
- Vai virar beata agora, irmã?
- Júlio deixe sua irmã em paz.
- Terminaram? Vou lavar os pratos só pra dar uma mãozinha pra vocês!
- Eu vou te ajudar aqui limpando a casa.
- Júlio, ajude-a, que vou campear umas vacas que estão perdidas, desgarradas por aí.
- Tá bom, pai.
- Júlio, nesse angu tem caroço...
- Te mete com religião não, Regina. Deixa esse povo para lá.
- Júlio, eu desconfio que há algo errado com aquele menino. Não engulo essa de Padre dar dinheiro para homem, quanto mais quando a família não tem a mãe e ele é um cachaceiro.
- Ave Maria! Aqui em casa a nossa mãe não está presente, faz tempo.
- É. Você tem razão até certo ponto, mas o pai é um homem digno, trabalhador e nunca levantou a mão para nenhum de nós. A nossa mãe, até onde eu sei, também foi muito honesta e exemplar.
- Vamos falar nisso mais não. Você sabe que quando lembro, dá vontade de chorar.
- Tá bom então, homem sensível. Vamos terminar essa labuta aqui.
Enquanto isso, na Casa Paroquial o Padre Ângelo chama todos os coroinhas para uma reunião.
- Já que estão todos aqui, vamos fazer a escalação dessa semana, certo?  O Gabriel dorme hoje na Casa Paroquial, os outros estão dispensados para irem para casa. O Padre Francisco já está com a relação de quem terá folga esse mês. Temos muitos pães aí, e cada um de vocês pode levar uns para casa.

Os garotos levantam-se da mesa e correm para os cestos de pães, pegam o que convém, e vão embora.
- Gabriel, vá se lavar, faça sua refeição e vá para o quarto, enquanto tenho uma conversa com Padre Francisco.
- Sim, Senhor!
- Francisco, tu chegou aqui primeiro, ninguém desconfia dessa falcatrua. Já faz um ano que celebra missa. Você é um homem "preparado". Já temos um bom dinheiro guardado. No final do ano vamos repassar essa Igreja para outros padres.
- Concordo com você! De anjo você não tem nada, além de pedófilo, você assassinou um padre e tomou o lugar dele. Vamos continuar com o plano.
- Meu caríssimo Ângelo, não sei qual a necessidade que teve de você fazer essas observações a meu respeito. Melhor ter cuidado com o que fala.
- É só para lembrar, que eu planejo e você executa. Pensei ter dito antes que passaríamos três anos em cada lugar. Então você vem com essa proposta. Assim, passa por cima das minhas regras.
- Não vou discutir com você. Irei fazer o que você disser. Desconsidere tudo que falei.
- Já até esqueci. Vai dormir com teu garoto, e olha, esse menino tá esquisito. Eu não aprovo isso. Em outras circunstâncias eu te mataria.
- Bom saber disso. Nós não estamos nos entendendo muito bem. Boa noite, Padre! Vou me divertir um pouco.
- Deus tenha misericórdia da tua alma, e duvido muito que ele tenha.
- Tu cuida da tua vida, que cuido da minha. Ah, e mais uma vez, cuidado com o que você fala.
- Isso é uma ameaça, Padre?
- Não. Vai, vai...


Os dias passam e chega o final de semana. Um lindo domingo ensolarado. Logo os coroinhas começam os preparativos para missa.
- Hoje vamos falar da parábola do bom filho que retorna à casa do pai...

Após a celebração, Gina é a primeira que sai e vai para um ponto do adro da igreja esperar por Gabriel que logo se apresenta como prometeu.

- E aí Gabriel Souza, tudo bem?
- Não. Não está tudo bem.
- O que houve agora?
- Quero te contar uma coisa. Um segredo. Posso confiar mesmo em você?
- Claro! Vim aqui pra te ajudar.
- Então vamos para a praça. Lá é melhor.
- Vamos sim!

À sombra de uma mangueira, o menino conta tudo o que se passa naquela casa paroquial. Diz também ter ouvido sobre o outro Padre que, na verdade, não foi transferido para outra cidade e sim assassinado pelos atuais e setá enterrado no quintal..

- Isso que você me disse é muito grave. Quem mais sabe dessa história?
- Só eu ouvi o que eles tramaram, mas já contei para os outros garotos.
- Quero conversar com vocês todos juntos. Pode ser?
- Pode. Vou falar com eles e marcar uma horinha dessas.
- Amanhã, então, certo?
- Certo! Mas o que você vai fazer?
- Não se preocupe. Vamos tomar providências. Isso vai acabar logo.
- Tomara mesmo. Eu não aguento mais.
- Seu pai também será preso por conivência com esses falsos padres.
- Não me importo. Já não sinto mais nada por ele também.
- Certo. Tenho um plano. Amanhã depois da reunião, vocês todos terão que se esconder e não retornarão à igreja. Deixem comigo que farei o resto.
- Mas o que você vai fazer, mesmo?
- Gabriel, meu anjo, confie em mim. Vai dar tudo certo. E não faltem ao nosso encontro.
- Tá bom. Acredito em você! Agora tenho que ir.
- Vai com Deus!

No dia seguinte, após a reunião, só Gina saberá onde encontrará os garotos. Sua primeira visita é à igreja...

- Bom dia, Padre!
- Bom dia, minha filha. Seja bem vinda à casa de Deus! Em que posso lhe ajudar?
- Padre, sei que não é um momento apropriado, mas preciso me confessar.
- Bem, a casa do Senhor está aberta a todos independente de horário. Vamos ao confessionário.
- Vamos. Obrigado pela sua atenção.
- Conte-me seus pecados, minha filha.
- Padre, eu tenho muitos. Daria um livro. São tantos que até eu tenho medo.
- Comece a contar e lhe darei uma penitência..
- Todos os meus pecados foram cometidos por justiça. Agora vem a parte interessante. Conte-me os seus.
- Minha filha, eu não entendi.
- Molestar crianças, seduzir e praticar ato sexual com menor é crime.
- Do que você está falando?
- Sei também que vocês assassinaram o Pároco dessa igreja e tomaram o lugar dele. 
Estão enganando uma cidade inteira. Acaba aqui e agora essa farsa.

- Quem é você? Quem te mandou aqui?

Antes que o falso Padre possa tomar qualquer decisão, uma corda laça seu pescoço e o enforca. Gina sempre age com planejamento.

- Você nunca irá descobrir.

Gina vai à delegacia contar que viu o Padre enforcado no confessionário e como testemunhas, outros fiéis e os garotos, que confirmam as desavenças entre os dois e os crimes de pedofilia. O comparsa vai preso como cúmplice dos crimes e leva a culpa por ter assassinado o Padre. O pai de Gabriel também é indiciado e preso.

Gina leva o garoto para morar em sua casa por um bom tempo e conta à sua família que está tudo bem. Era só um mal entendido, mas explica que o pai do garoto é um beberrão e por isso ele passará uns dias em sua casa.

- Se cada um fizer um pouco pelo outro, teremos um mundo melhor. Gina.

Outra jornada nos aguarda...

Carlos Holanda

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

História e Curiosidades de Teresina - O livro

O livro História e Curiosidades de Teresina de Carlos Holanda, tem capa cartonada em policromia com aplicação de verniz localizado e vem com 190 páginas em P&B, ilustradas com fotos e desenhos do autor e do artista visual Herbert Veras Viana.

No conteúdo, além da história da capital do Piauí, vamos encontrar também um resumo de quase todos os bairros com detalhes de como surgiram alguns.

O valor do livro é R$ 30,00. Vale a pena conferir. Pedidos por e-mail.
diholanda44@gmail.com


domingo, 15 de janeiro de 2017

O Músico

Um menino pobre, sem estudos, de família humilde, decide aventurar-se na cidade grande. Ainda menor, porém, com o consentimento dos pais, viaja em busca de uma vida melhor. Sonha todas as noites com o sucesso e espera encontrar uma chance para mostrar seu talento.

Chegando à metrópole, se instala numa pousada simples, bem próxima ao terminal rodoviário. Passa os dias procurando emprego. Recebe muitos nãos como resposta, mas não desiste. Passa a ser flanelinha, para se sustentar, vigia carros e tira o suficiente para se manter, mesmo assim, ainda passa fome. Não tem regalias e nem lazer. Sempre aos finais de semana, senta numa calçada movimentada, tira sua viola do saco e começa a tocar. Intercala sua arte com realejo. Também brinca com o triângulo.


É então, que lhe ocorre a ideia de colocar o boné no chão com a boca para cima. Os transeuntes se aglomeram ao seu redor para admirar sua arte musical. Até consegue juntar algum dinheiro. Na segunda feira começa novamente a lavar e vigiar carros.

Durante uns dois meses, de segunda a sexta era flanelinha. Sábado e domingo, músico em praça pública. A quantidade de fãs crescia a cada final de semana.

Um senhor de meia idade o observava desde o início e decidiu então, propor-lhe uma parceria, pois tinha uma rede de restaurantes e procurava talentos assim para animar as noitadas. Felipe, o garoto, aceitou fazer um teste. Comprou uma muda de roupas e foi ao encontro do empresário em um dos estabelecimentos. Tocou bonito os três instrumentos: violão, realejo e triângulo. Para surpreender e impressionar ainda mais apresentou sua arte com flauta doce. Foi aplaudido de pé.

O empresário passa a apresentá-lo em outros seis estabelecimentos de sua propriedade e, em cada um Felipe é mais aplaudido. Ambos estão satisfeitos. O garoto passa a ganhar dinheiro, inclusive para enviar à sua família.

Dois anos depois, Felipe é convidado para uma banda renomada com o apoio do seu amigo empresário. E ganham dinheiro juntos.


Sabe, a felicidade às vezes não está onde você esperava que estivesse. Procure-a, e acharás.

Por Carlos Holanda

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Lendas do Piauí e do Brasil

Em breve será lançado em Teresina o livro: Lendas do Piauí e do Brasil. As lendas são narrativas do poeta, escritor e artista visual Carlos Holanda e as ilustrações são do artista Herbert Veras Viana.

sábado, 7 de janeiro de 2017

A NAVE

                                                                                          Foto divulgação

Um caboclo do interior, depois de tomar umas e outras e se embriagar em um forró pé-de-serra numa casa de taipa, coberta de palha, ao som de zabumba, triângulo e sanfona, decide ir embora. Já passa da meia noite, a lua de vez em quando se esconde.

Monta seu burro bem arreado e segue. É um longo caminho pela frente na estradinha de chão, de areia solta e poeira. Entra por veredas de mato fechado, onde o escuro é de meter o dedo no olho e nada ver. O animal parece conhecer o caminho de casa, mas, assusta-se com um clarão inesperado de luzes multicoloridas, derrubando seu dono e o abandonando. O animal embrenha-se no mato e some.

João, o caboclo do interior, nunca mais foi visto. Foi abduzido.

Carlos Holanda

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

GINA, A caçadora VI - Vingança

A vingança é um prato que se serve frio, diz o ditado popular. Os sistemas legais modernos ocidentais geralmente afirmam que sua intenção é a reabilitação ou a reinserção na sociedade. Porém, mesmo nestes sistemas a noção de justiça como vingança persiste em setores da sociedade.

Sobre as bases morais, psicológicas e culturais da vingança a filósofa  Martha Nussbaum escreveu: "O senso primitivo do justo — notadamente constante de diversas culturas antigas a instituições modernas começa com a noção de que a vida humana é uma coisa vulnerável, uma coisa que pode ser invadida, ferida, violada de diversas maneiras pelas ações de outros. Para esta penetração, a única cura que parece apropriada é a contra invasão, igualmente deliberada, igualmente grave. E para equilibrar a balança verdadeiramente, a retribuição deve ser exatamente, estritamente proporcional à violação original. Ela difere da ação original apenas na sequência temporal e no fato de que é a sua resposta em vez da ação original — um fato frequentemente obscurecido se há uma longa sequência de ações e contra ações".

A ética da vingança é acaloradamente debatida na filosofia. Alguns acreditam que ela é necessária para manter uma sociedade justa. Em algumas sociedades se acredita que o mal infligido deve ser maior do que o mal que originou a vingança, como forma de punição. A filosofia de "olho por olho" citada no Velho Testamento da Bíblia ( Exôdo  21:24 ) tentou limitar o dano causado, igualando ao original, para evitar uma série de ações violentas que escalassem rapidamente e saíssem do controle. Outros argumentam contra a vingança alegando que se assemelha à falácia de que "Dois erros fazem um acerto". Alguns cristãos interpretam a passagem de Paulo "A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor" ( Epístola aos Romanos 12:19, na versão da Bíblia Sagrada) significando que apenas Deus tem o direito de praticar a vingança.

Do alto da montanha um cavaleiro solitário observa a cidade. Após estudar bem como entrar e como sair, pois de lá, daquela altura, daria pra ver bem os pontos de fuga no horizonte. Ele resolve então, procurar um lugar para se hospedar.

                                       Imagem divulgação Web

Sun Tzu disse: “Se você conhece o inimigo e, conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.

Um homem armado como esse, tem sede de vingança e tem seus motivos, embora as leis prometam fazer justiça prendendo, julgando e condenando, mas ele não acredita nisso, até porque já se passaram meses e não houve nenhuma prisão e muito menos julgamento. Decidido, ele quer fazer justiça com as próprias mãos. Essa não é uma prática salutar e tampouco convencional, mas o homem está convicto de que a lei não funciona ali. Eram três irmãos e a última notícia que teve foi de que os dois que vieram se aventurar naquele município foram assassinados.

Miguel também é, assim como seus irmãos, um indivíduo de alta periculosidade e não tem nenhuma pista de quem os matou, mas tem certeza que o encontrará e tentará punir à sua maneira...
Sem saber ao menos por onde começar, encontra a pousada mais barata; ele não quer luxo mesmo, só um lugar para dormir. Depois de se informar, termina por se arranchar na pousada simples de Dona Luzia.

Gina acordou muito cedo e passa a manhã treinando com arco e flecha.
Rita pede ao pai que a leve na casa da amiga, afinal é um final de semana e não tem muito o que fazer, a não ser trocar umas ideias. Seu Manoel diz ter outros afazeres e autoriza que ela vá a cavalo e que pode até passar o dia por lá.

Miguel, por sua vez começa uma série de indagações sobre seus irmãos na pousada de Dona Luzia.
- Dona Luzia, nessa cidade a lei não funciona muito bem, não é?
- Olha! Isso aqui é o fim do mundo. A gente vive assustada. A polícia só tem um delegado e três policiais. A única viatura que tem, está no prego faz dias. Não tem como fazer uma diligência. A cidade está entregue às moscas e ao deus-dará.
- Me desculpe perguntar, mas tem alguém preso?
- Rum! Tem nada! Quando alguém vai pra cadeia, se tiver dinheiro, num instante sai. O juiz também nem para por aqui. Passa maior parte do tempo na capital.
- E o prefeito, que é a autoridade máxima, o que ele faz quanto a isso?
- Não faz! É outro par de calças que anda com uma reca de jagunços pra se proteger. Só pensa nele e na família dele. E o povo que se lasque.
- É complicado, Dona Luzia. Eu mesmo não acredito nesses políticos.
- Nem eu. A gente só vota porque é obrigado. Eles só se lembram do povo no tempo das eleições.
- Vou ter que dar umas voltas por aí pra conhecer a cidade.
- Vá amigo e não se meta em encrencas!
- Obrigado por se preocupar, Dona Luzia, só mais uma última pergunta, pode ser?
- Pergunte, não dói e nem pesa responder.
- Eu soube que mataram dois homens de bem violentamente, há alguns meses, já solucionaram esse caso? Prenderam quem cometeu tamanha crueldade?
- Meu amigo, esse e outros casos me parecem que ainda não foram descobertos. Um foi lá pras bandas do cabaré de Maria Preta. O outro foi num cassino que tem no centro. De mais nada eu não sei. Por que o senhor está tão interessado nessas coisas?
- Nada não. Como a Senhora mesmo disse: responder não dói e nem pesa, creio que perguntar também não. É só curiosidade mesmo de um estranho nas terras alheias.
- Tá bom!
- Vou lá, Dona Luzia...
- Vai com Deus!

Rita chega à casa de Gina bem empolgada com o que tem a dizer para sua amiga.
- Bom dia, Seu João Lobo!
- Bom dia filha!
- Quero falar com a Regina, ela está aí?
- Está! Entre.
- Oi amiga! Tenho uma coisa para te falar.
- Oi Rita! Então vamos lá para fora. Meu pai não pode ouvir essas histórias.
- Está bem. Vamos.
- Fala!
- Ouvi meu pai falar para minha mãe que, enquanto jogava baralho com seus amigos e o cabo de polícia, ele falou que chegou um forasteiro na cidade, procurando informações sobre aqueles que você...
- Sei. Que eu matei.
- É. E agora o que você vai fazer?
- Não sei ainda. E o que ele quer mesmo, seu pai falou?
- Só disse que parece que ele é irmão deles.
- Vixe! Pois o caldo vai engrossar Rita. É melhor você deixar de vir por aqui, enquanto ele não vai embora. Pode ser perigoso demais estar aqui em casa. Cedo ou tarde ele vai aparecer. O povo tem a boca grande.
- Vou ficar de olhos e ouvidos abertos perto do pai. Quando tiver novidades lhe direi.
- Tá ótimo, assim!
Miguel cavalga devagar, quase trotando em seu cavalo preto, um belo manga-larga! É então que lhe vem um estalo, visitar o cabaré de Maria Preta.
- Bom dia, Senhora! Gostaria de falar com a proprietária.
- Pois pode falar, sou eu mesma.
- Eu vou ser bem direto para não tomar seu tempo.
- As meninas não ficam aqui pela manhã, mas se quiser mando chamar.
- Não! Não é sobre isso que quero falar. Gostaria de lhes perguntar sobre um acontecido criminoso há alguns meses.
- Vixe! Olha, moço, eu não sei de nada, não, visse?
- Como não sabe? Os dois homens foram mortos aqui no seu estabelecimento.
- Meu Senhor, é verdade que esses homens vieram para cá, mas só no dia seguinte é que foram encontrados mortos. Foram esfaqueados...
- E quem fez isso? Você não sabe quem entra ou sai daqui?
- À noite é bem movimentada aqui.
- Dona Maria, me desculpe pela franqueza, mas tenho quase certeza de que a Senhora sabe quem foi para o quarto com eles.
Passa um filminho na cabeça de Luzia, um flash.
- Vou lhes dizer uma coisa, mas você sabe, informação exige duas coisas.
- Diga.
- Recompensa e sigilo. Pode fazer isso, se é que me entende?
Miguel puxa um valor que acha adequado e lhe entrega.
- Muito bem, falamos a mesma língua. Não sei muito, mas recordo que naquele dia, uma moça morena, muito bonita, veio aqui, fez umas perguntas e os levou para o quarto. Nem demorou muito. Saiu e disse que eles estavam no céu.
- Quantos anos tem essa mulher?
- Senhor...
- Miguel. Meu nome é Miguel.
- Acho que não passava de dezoito anos, por aí, viu?
- Eles eram bem fortes para serem mortos, os dois, tão rápido e perversamente por uma garota tão jovem.
- É. Eu também duvidei. A polícia arquiva quase tudo aqui, mas mandaram esse processo para a capital.
- Nem vou procurar na Delegacia. Você sabe me dizer onde ela mora?
- Não sei ao certo, mas ouvi falar que é num povoado que fica para as bandas da saída da cidade, entrando numa estrada de chão, depois da ponte, à direita. De mais nada não sei. Ela nunca tinha vindo aqui.
- Fica com Deus! Vou dar uma olhada por aí...
Miguel volta para a pousada, vai almoçar e arquitetar seu plano de vingança.
Enquanto isso, Regina pede a Júlio que lhe ajude a cavar um buraco bem fundo, tipo uma cova em uma das veredas mais distantes uns cem metros da sua casa. O irmão sequer pergunta para o que é e no final da tarde já está feito o serviço. Gina diz que fará o resto do que planeja.
No dia seguinte, de manhã, Miguel bate à porta de João Lobo.
- Ô de casa! Ô de casa!
Ninguém atende. Regina como já esperava a visita indesejada, grita a uns cinquenta metros:
- Quem é você e o que quer?
- Quero conversar e pedir para me arranchar por um dia.
- Conversa furada! Você não é dessas bandas e não tem nada para fazer aqui.
- Ah! Tenho sim! Vim saber da história real, do crime que envolve meus irmãos. E tenho certeza que você é a culpada!
- Eu não. Eles. Você não sabe a metade da missa.
- É de fato, posso não saber, mas vou te dizer uma coisa, você não vai contar essa história para ninguém, sua vagabunda, criminosa.
Nesse momento, Miguel arrasta seu rifle da sela do animal e atira.
- Você é o mais covarde dos três.  Para falar com uma mulher, vem armado até os dentes.
- Só vim te matar e vou embora.
- Vem me pegar! Atiça Gina.
Gina corre na vereda e some no mato. Miguel corre em sua direção, pensando ser uma presa fácil, viu-a desarmada.
- Vem cá negra, safada! Vou te mostrar quem é covarde!
Cautelosamente, como quem caça um animal, põe um pé atrás do outro.
Vou te encontrar e te sangrar como quem sangra um porco. É isso que você merece.

Desapercebidamente Miguel cai no buraco que Júlio havia feito. Era uma gangorra, tamanho família, com uma boca de dois metros por um, coberta com terra fina e folhagens. Dentro, estacas pontiagudas que o atravessaram em quatro ou cinco pontos no tórax e estômago, além das pernas. Os pontos vitais foram atingidos. Não haveria como escapar e ali mesmo seria enterrado.
- Quem é negra safada agora? Não saia da sua sepultura, esse é seu lugar.
Antes de tudo acontecer, essa manhã, muito cedo, João Lobo e o filho foram à cidade vender suas peles.

Gina esperou Júlio chegar para lhe ajudar a enterrar o “assunto”, que em outra linguagem chamariam o cadáver de presunto.
- Júlio, está feito! Na vida, nem tudo é como a gente quer ou planeja. A vida tem muitas escolhas, mas essa não foi a minha.
- Eu entendo Gina.  Pelo menos é mais um bandido fora de circulação. Esse não fará mal a ninguém daqui pra frente. Mas essa com certeza não é a coisa certa. Vamos terminar caindo em maus lençóis.

- Depois quero conversar com você sobre nós. Nesse momento vou refletir sobre o que já foi feito. Certo ou errado, não somos nós que vamos julgar. Há coisas que fazemos por questões de sobrevivência, mesmo contra nossa vontade.

#NossasLendas PORCA DO DENTE DE OURO

Conta a lenda que há muito tempo, vivia em Teresina, uma moça namoradeira, danada, desobediente e por causa de um rapaz por quem nutria admiração, travara uma terrível briga com a mãe que não o aceitava, entre tapas e empurrões deu uma dentada na velha que arrancou um tampo do rosto. Depois disso, a jovem trancou-se no quarto e não queria conversar com ninguém, como que arrependida e traumatizada. Só abria a porta para receber comida e água.
À meia noite, transformava-se em uma porca grande, feia e com um dente grande de ouro. Costumava vagar pelas ruas escuras, pelos subúrbios como os bairros Por Enquanto, Mafuá e Cajueiros. Também andava pela Vermelha, Barrocão, Piçarra, Catarina, Ilhotas, Matinha, Dirceu e Matadouro. Percorria tudo. Dizem que ainda hoje, vive trancada no seu quarto saindo apenas à meia-noite na forma bizarra de uma porca.
Ilustração de Herbert Véras Viana 


domingo, 1 de janeiro de 2017

Mapa do Piauí em grande formato (Plotter)


Em parceria com órgãos públicos como IBGE, SEPLAN,GOVERNO DO ESTADO e PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA,Redesenhamos o mapa do Piauí,importando do Autocad para o Corel e finalizando no Photo shop, com belíssimas imagens.
MAPA DO PIAUÍ TURÍSTICO, POLÍTICO E RODOVIÁRIO 2017
Atualizado, impressão digital em lona (tipo banner) policromia, no formato 120 X 80 cm.

DETALHES SOBRE O MAPA DO PIAUÍ

• Mapa ilustrado com fotos atuais.
• Distâncias aproximadas de Teresina às sedes dos municípios.
• Limites dos Estados.
• Rodovias Federais, Estaduais e transitórias.
• Ferrovias, Aeroportos e pistas de pouso.
• Núcleos urbanos.
• Rios, lagos, lagoas, reservatórios e barragens.
• Escala de 1:1.000.000
• Projeção policônica: Meridiano central 54º w r.
• Metodologia: Base cartográfica digital elaborada a partir de rastreamento de satélite LANDSAT (GPS)
• Dados do IBGE/DER
• Projeto Gráfico e pesquisas: Di Holanda.

COMO SOLICITAR

•E-mail: diholanda44@gmail.com
• Telefones: 86 3305.3692 / 9906.3331

VALOR À VISTA = R$ 120,00
Entrega em Teresina: Imediata 

Outras localidades via Correios • FRETE GRÁTIS PARA TODO O BRASIL.